domingo, 23 de janeiro de 2011

Insight

Qual é o dogma da 68ª edição do Globo de ouro?


No curso da última década, o Globo de ouro perdeu aquele status de prévia do Oscar. Ainda é considerado, embora com alguns contrapontos, um termômetro do principal prêmio do cinema, mas já não goza do prestígio de outrora.
Mais do que prestígio, o que anda na berlinda é a relevância do prêmio. Há algum tempo, vem sendo sublimado pelo recente Critic´s choice awards (que em 2011 teve sua 16ª edição). Isso ocorre porque do ponto de vista da indústria, o Critic´s tem tudo para ser levado mais a sério: é composto por um colegiado de americanos, no Globo de ouro quem outorga os prêmios são correspondentes estrangeiros, e é composto puramente por críticos de cinema, ainda que de mídias diversas, no Globo de ouro são jornalistas genéricos sem especialização em cinema necessariamente. A extensão do colegiado também difere. Enquanto há mais 700 membros votantes no Critic´s choice, no Globo de ouro o total é de 90.
Além dessa tensão que cresce a todo ano, a Hollywood Foreign Press Association (HFPA) sempre se viu questionada pela crítica americana sobre sua autoridade moral. Além de serem notadamente suscetíveis a campanhas de marketing (na verdade, todo mundo é, mas a HFPA se preocupa menos em disfarçar), os jornalistas são grandes entusiastas das celebridades. Reconhecendo o glamour como parte do show. O que vai de encontro a rabugice de alguns críticos mais conservadores que enxergam o cinema como coisa séria, ainda que de dentro do armário adorem a frivolidade do mesmo.
Parte daí a grande conquista do Globo de ouro de segmentar seus prêmios entre as categorias dramáticas e cômicas. Nesse contexto, os globos se tornaram mais populares e mostraram que o Oscar estava, de certa forma, engessado.

Michael Douglas e Eva Mendes batem um papo em uma das after parties do último domingo: estrelas e grandes blockbusters sempre fizeram parte do script da HFPA


Nos últimos anos, porém, na ânsia de rivalizar com os prêmios da academia, a HFPA se perdeu. Em 2006, Babel, que tinha o maior número de indicações, só ganhou um prêmio. Justamente o de melhor filme dramático. Uma incoerência, o melhor filme do ano não ganhar um outro prêmio sequer. Ano passado ocorreu coisa semelhante. Nine foi agraciado com cinco indicações. Era óbvio que a HFPA havia curtido o filme. Mas a crítica americana não. Resultado? Se beber não case, filme que tinha recebido uma módica indicação de melhor comédia do ano (em tudo levava a crer que para compor os cinco selecionados, já que os outros concorrentes tinham mais indicações) faturou o globo e Nine saiu sem nada. No mesmo ano, o hiperbólico e trivial Avatar (mas de grande bilheteria) superou filmes melhores como Bastardos inglórios, Amor sem escalas e Guerra ao terror na categoria dramática.
Mas nada se compara ao mal estar provocado em 2011 com algumas indicações. Em especial as menções ao filme O turista na categoria de comédia. Pegou mal. Muito mal. A avalanche de críticas foi instantânea e justificada. É difícil crer que sem elas, o resultado do Globo de ouro que vimos no último domingo seria o mesmo. Talvez o prêmio fosse tão esquizofrênico quanto vinha sendo nos últimos anos. A formação cultural e social distinta do colegiado que compõe a HFPA é uma das riquezas que a faz tão plural e ressonante, mas também é o que impede uma unidade mais representativa. Após a edição de 2011 esta unidade volta a ser uma prioridade. Deve pautar jantares entre os membros e orientar escolhas mais consistentes. O que não quer dizer que essas escolhas sejam independentes (em certo nível, nunca foram).
Em um contexto pelo qual passa a participação chocante do comediante Rick Gervais, a 68ª edição do Globo de ouro aponta para uma HFPA mais na ofensiva e menos na defensiva. É como se dissessem: “Vamos parar com a invejinha e reconhecer o muito que o Globo de ouro faz por seus filmes e carreiras.”O que quer dizer também: “Todo mundo erra e nós acertamos bastante!”. A mensagem, claro, e a tolerância a ela, variam de acordo com o interlocutor.

3 comentários:

  1. É... o Globo de Ouro não é mais aquele, mas também, nem o Oscar, hehe. Vamos ver o que nos aguarda ainda esse ano.

    Ah, gosto da divisão de comédia e drama, é mais democrática mesmo.

    bjs

    ResponderExcluir
  2. extremamente previsivel... globo de ouro se afunda cada vez mais a cada ano q passa

    http://filme-do-dia.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  3. Amanda: Acho que o Globo de ouro se enveredou por um renascimento em 2011 Amanda. Vamos ver se a tendência se verifica. Bjs

    Kahlil: Concordo com vc, mas esse ano a HFPA tentou se aproximar da superfície, digamos assim...abs

    ResponderExcluir