quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Crítica - Malu de bicicleta

Cinema somente!

É de causar tanta estranheza que o noticiário cultural saúda a estréia de Malu de bicicleta (Brasil 2011) como um oásis criativo na produção de cinema nacional. Isso ocorre porque o filme de Flávio Tambellini, baseado na obra homônima do jornalista e escritor Marcelo Rubens Paiva, é uma comédia romântica que aposta na sutileza dos diálogos e na sofisticação da misê en scène.
É por se situar entre os filmes de massa (Se eu fosse você, Nosso lar, Tropa de elite) e filmes autorais (A festa da menina morta, Abril despedaçado e Feliz natal), que essa produção que reverencia Woody Allen está sendo louvada pela crítica e, espera-se, encontre um público disposto a apreciá-la a contento.

Paixão repentina: em Malu de bicicleta os desatinos emocionais dos personagens não ganham profundidade e isso é bom


A menção a Woody Allen se justifica pelo fato do protagonista, Luis Mário (Marcelo Serrado, bem à vontade), ser decalcado da obra do diretor e roteirista americano. Luis Mário, um predador sensível, traz o humor e a paranóia que caracterizam o cinema de Allen. Embora haja um tempero brasileiro, as bases do personagem se referendam nas comédias setentistas do gênio americano.
Empresário da noite paulistana, Luis Mário coleciona commodities (mulheres em seu jargão). Em uma temporada no Rio de Janeiro, conhece Malu (que o atropela de bicicleta um belo dia). Surge daí uma ligação tão incidental quanto furtiva que irá mexer com as prioridades de Luis Mário, mas não com seus instintos.
É da inadequação de Luis Mário a uma relação adulta, da incidência de ciúmes e outras miudezas da relação a dois que Malu de bicicleta tira sua graça e sua história. Tudo de maneira leve, climatizada e sem sobressaltos pretensiosos. Tambellini sabe que sua história visa o entretenimento e que pesar a mão significaria perder de vista um público que está disposto a conhecer a outra cara do cinema nacional: um cinema de conteúdo, requinte e que não precisa se auto afirmar a todo o momento.

4 comentários:

  1. Eu vi o marketing deste filme à distância. Você e a Amanda do Cine,pipoca cult (se não me engano li no blog dela) são os únicos até agora na blogosfera a falar deste filme. Ótimo texto!

    Enfim, Flávio Tambellini está na indústria cinematográfica a tanto tempo que nem lembro de outros trabalhos dele como diretor e muitos como produtor e patrocinador.

    Pelo que você escreveu, fiquei interessado. Um alívio saber que Tambellini opta por não pesar a mão, algo que ocorreu com Jabor, a diretora de Desenrola e prestando mais atenção, até mesmo Padilha e quase sempre Daniel Filho.

    Se o filme é um leve entretenimento sem exageros (até o divertido De Pernas Pro Ar com a Ingrid Guimarães chega a apelar em muitas cenas, e que não fica engraçado)está aí uma boa pedida. É ver para crer. Vou ver.

    Abs.
    Rodrigo

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  2. Obrigado Rodrigo. Pois é, esse talvez seja o melhor trabalho do Tambellini como diretor. Pq o último, Bufo & Spallanzini, foi sofrível. O próprio admitiu em entrevista que este foi o filme em que seu lado produtor interfiriu mais no lado diretor. Acho que foi uma interferência positiva.
    Agora não vá esperando uma resolução. É de causar estranheza, como eu disse, mas é bacaninha...
    Aquele abraço!

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  3. Sua crítica me deixou mais curiosa ainda sobre o projeto. Agora que o cinema nacional perdeu aquela neura de autoafirmar, as pessoas estão relaxando (e gozando, rsrsrs) e se permitindo apenas focar em contar uma boa história. Pra quê mais?
    Enfim, a ideia é que eu o veja ainda este fds, daí trocamos figurinhas, rsrs

    Beijos

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  4. Aline: Não diria que o cinema nacional perdeu a neura de se autoafirmar... Mas a ideia já começa a se solidificar...
    Beijos

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