quinta-feira, 31 de março de 2011

Panorama - O vencedor


O vencedor (The fighter, EUA 2010) não parece um filme de David O. Russell e, de certa maneira, não o é. A fita caiu no colo do diretor devido a sua amizade com o protagonista e produtor Mark Wahlberg. Um drama familiar e um filme de boxe. Essas são duas definições bastante ouvidas sobre o filme em que Russell, que novamente assina o roteiro (dessa vez em parceria), está mais comedido do que nunca. Não há espaço para as ironias típicas do humor debochado do diretor. A técnica, na condução da história do boxer que através de sua saga pelo sucesso une sua família, aparece apurada. Russell surge um diretor mais seguro de suas escolhas. Os ângulos, os planos, a música insidiosa... Tudo conspira para um diretor de mão firme por trás daquelas cenas. Contudo, essa constatação não evita o sentimento de que O vencedor é o filme mais frágil de Russell do ponto de vista criativo. Afora boas soluções visuais na encenação das lutas e uma eficiente direção de atores, Russell pouco contribuiu com um filme “de encomenda” e que poderia ter sido realizado por qualquer outro com formação técnica equivalente.
A ironia que fica é que para tornar-se um diretor reconhecido (o trabalho lhe rendeu uma indicação ao Oscar), Russell renunciou justamente ao que lhe distinguia.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Crítica - Bruna surfistinha

Cinderela devassa


É contumaz que Bruna surfistinha (Brasil 2011) comece com uma garota pouco sensual tentando se provar sexy com um hino do striptease de fundo musical. Não deixa de ser pontual que o filme termine com a personagem principal olhando para a platéia, ao abrir uma porta, fazendo o convite: “entra”.
Mais do que sugerir exibicionismo, as duas cenas separadas por toda a metragem da fita indicam que Bruna surfistinha é um filme que por trás de toda a fachada pop, tem algum interesse artístico. Esse interesse pode ser nivelado com a perfeição técnica (a montagem, a edição de som e a fotografia do filme impressionam), mas sucumbe à pretensão comercial. Bruna surfistinha é, em sua soma, um amontoado de clichês que nunca excede o lugar comum em termos dramáticos. A investigação que se promete da personagem que decide sair de casa para ser prostituta nunca se verifica. Existe sim a disposição em honrar os preconceitos existentes em relação àquela história. O argumento insiste que o movimento de Raquel para tornar-se Bruna foi de auto-afirmação. “Saí de casa para ter independência”. “Para que meus pais sentissem alguma coisa, nem que fosse raiva”, explica para a platéia em off a personagem de Deborah Secco. Não fosse pelo off, por vezes abandonado da narrativa, não se vislumbraria essa motivação em Raquel.
O que aflige mais, em contraponto com o slogan em letras garrafais (Vá com seu namorado, suas amigas ou sozinha. Só não vá com preconceitos.), é a disposição do filme em pintar a surfistinha como uma cinderela devassa. No final das contas, ela precisava de um homem que a enxergasse mais do que uma vagina (para mantermos a compostura) e a cena do bullying no início da fita induz essa inflexão. O filme falseia as expectativas e, apesar da forma arrojada e libertária com que espelha a rotina da personagem, estruturalmente se resolve de maneira conservadora. Pode-se argumentar que esse foi o desfecho de Bruna surfistinha, essa personagem criada para que Raquel entendesse a si mesma nas palavras da própria, mas o filme não tinha esse compromisso.
Compromisso foi o que Deborah Secco firmou com sua personagem. Exuberante em cena, Deborah despudora-se de corpo e alma para transformar-se em Bruna. Ela sim não julga a personagem. Vive-a intensamente com decalque pesquisado e intuitivo de uma atriz que demonstra segurança de cada escolha que faz na tela.
O diretor Marcus Baldini demonstra talento. Oriundo da publicidade, Baldini sabe vender seu filme. A pegada pop, que se cristaliza na trilha descolada, nos planos elaborados e nas cenas de sexo entremeadas pela luz solar, é o forte da fita. Bruna surfistinha, o filme, é tão intrigante e convidativo quanto sua biografada. Mas como cinema é essa decepção ululante e, até certo ponto, óbvia. Fosse um diretor curioso de sua personagem, Baldini avançaria à superfície. Descobriria aquela garota que furtada agarra a tesoura e parecendo uma leoa agride uma igual, mas que se inferiorizara alguns dias antes perante um garoto da escola. Essas cenas estão lá para legitimar uma transformação que, como o recorte das cenas lá de cima sugere, o espectador não sabe ao certo qual é. Ainda que a voz de Deborah surja para lhe informar.

terça-feira, 29 de março de 2011

Crítica - Não me abandone jamais

Sobre humanidade...


Não me abandone jamais (Never let me go, EUA/ING 2010) é um filme de profunda humanidade. É possível afirmar que esse componente vem do livro homônimo de Kazuo Ishiguro, no qual a fita se baseia, mas o roteiro de Alex Garland e a sensível direção de Mark Romanek a acentuam.
Tommy (Andrew Garfield), Kathy (Carey Mulligan) e Ruth (Keira Knightley) são três amigos que cresceram juntos em um internato inglês. Em um momento da adolescência, os três descobrem que são clones e que foram “desenvolvidos” para doar seus órgãos até quando puderem resistir.
Não me abandone jamais é construído em sutilezas. Não existe a preocupação de discutir a ética, tão pouco em alinhavar um drama de cores fortes. O interesse em discutir a humanidade se estabelece na medida em que se atém ao sentimento que aqueles jovens sentem um pelo outro e como a inocência vai perdendo espaço para a desesperança.

O sentimento em primeiro plano: Romanek se fixa em seu trio de protagonistas e acerta em cheio



Romanek é hábil ao focar a ebulição do medo, ansiedade e desorientação flagrante em jovens cientes de sua finitude. Tudo o mais que o espectador sentir ao perceber isso é um ganho implícito da força de um roteiro que não se preocupa em ser matizado pelo politicamente correto e de atuações cheias de verdade e carinho.
Andrew Garfield mostra com seu Tommy porque 2010 será irremediavelmente lembrado como o seu ano. Uma interpretação tão comedida e, ao mesmo tempo, tão evasiva que faz salivar pelos próximos trabalhos do ator; e temer que o papel como Homem aranha o limite.
Keira Knightley é outra que, mesmo com pouco tempo em tela, brilha em uma atuação sem vaidades e em plena sintonia com sua personagem.
O que mais instiga em Não me abandone jamais é o poder das sutilezas. Das sugestões escondidas. É um filme que deseja repousar com o espectador. Mesmo que o incomode profundamente. É humano ao nos apontar para nós mesmos e cinematográfico ao nos privar de nós mesmos. É dessa bifurcação poética que a força do filme se erige.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Panorama - Huckabees:a vida é uma comédia

Existencialismo. Essa é a palavra chave do quarto filme de David O. Russell. Novamente o humor negro se viabiliza como matéria prima para o cineasta nessa história detetivesca em que Albert Markovski (Jason Schwartzman) tenta descobrir o sentido da vida. Uma modelo cansada de ter que ser bonita, um bombeiro confuso e um cara sortudo que subitamente começa a ter azar; esses ingredientes apimentam uma comédia peculiar com veia filosófica que conta com o melhor dos elencos que Russell já dirigiu. Mark Wahlberg, Jude Law, Naomi Watts, Dustin Hoffman e Isabelle Huppert são alguns dos destaques.
Russell costura uma crônica ácida sobre incompatibilidades, desejos obscuros e gente esquisita. Se não tem o brilho de Três reis, Huckabees – a vida é uma comédia guarda a mesma inventividade no registro. Com o acréscimo de uma trilha sonora tão descolada quanto àquele universo algo idílico que temos acesso no último filme independente de Russell até o momento.

domingo, 27 de março de 2011

Insight

Sobre autenticidade...


O novo filme de Abbas Kiarostami, Cópia fiel, traz em seu cerne um debate dos mais interessantes. O diretor argumenta que a arte é algo que depende mais do olhar, da percepção de quem a observa do que dos desígnios de seu autor. É uma tese que reúne muitos entusiastas e que encontra no cinema um respaldo valoroso. O próprio filme (veja a crítica aqui) é instrumentalizado por Kiarostami em sua sanha por viabilizar a teoria.
O olhar, defende o cineasta iraniano, é o que avaliza uma obra de arte como tal. Em um dado momento, um personagem do filme argumenta que se uma árvore estiver em exibição em um museu ela será tomada como arte, enquanto que se a mesma estiver na rua, ninguém se dará ao trabalho de atentar a ela. É um argumento poderoso e autêntico. E o próprio filme de Kiarostami reclama essa condição limítrofe entre arte e não arte. O iraniano relativiza a própria obra ao estabelecer a força das cópias. Copiando, Kiarostami pode ser original?
São questionamentos legítimos. A produção cinematográfica agoniza. Cineastas tidos como originais (Quentin Tarantino, Michael Haneke, Pedro Almodóvar, entre outros) não se reconhecem como tais dentro de filmografias que convergem turbilhões de referências e influências. Almodóvar, em seu último filme (Abraços partidos), visitou a si mesmo (o filme Mulheres a beira de um ataque de nervos), e tangenciou na tela uma crise criativa que experimentou na realidade. Tarantino, em Bastardos inglórios, conjuga referências que vão desde Os 12 condenados até os faroestes de Sergio Leone. Michael Haneke refez o mesmo filme (Violência gratuita) em versão americana e foi condenado por isso.
Por vezes, a cópia é tão descarada que classificá-la como influência soa como condescendência. O que Kiarostami suscita com seu filme é que essa apropriação afirma o original e insurge com valor próprio, quando bem feita. O que é o caso dos filmes citados.
Em Cópia fiel, o protagonista – que serve de porta voz de Kiarostami – articula que uma obra de arte original pode ser entendida como um nascimento. A evolução, através das cópias, seria um movimento natural nessa linha de raciocínio. Novamente, há legitimidade na argumentação.
É especialmente satisfatório testemunhar uma ponderação dessa envergadura no cinema. Um filme disposto a pensar sua razão de ser e a revogar certas idiossincrasias, ainda que por um viés libertário, que pautam o entendimento geral. Uma produção com o claro objetivo de desbravar novos conceitos e deixar os “prés” para trás.

sábado, 26 de março de 2011

Cantinho do DVD

Michael Cera parece interpretar a si mesmo a cada novo filme. Em uma entrevista concedida a revista Rolling Stone no final de 2009, em razão do lançamento do filme que a seção Cantinho do DVD destaca hoje, Cera disse que essa impressão não é de todo equivocada. O ator admitiu ser o tipo bem desencanado e que entende o porque da música ser tão significativa para os jovens. Cera disse que não se deslumbra com a fama e que se divertiu muito fazendo Rebelde com causa. No filme, ele tem a oportunidade de avançar como intérprete. Em um drama de pegada cômica que depende muito de sua atuação, Cera corresponde e torna-se o grande atrativo de um filme que merece ser descoberto.



Crítica

Miguel Arteta, apesar de não ter muita mídia, é dos cineastas mais interessantes a habitar a cena independente americana. Em Rebelde com causa (Youth in revolt, EUA 2009), um simpático, hermético e heróico retrato da juventude, ele retoma alguns aspectos de outro ótimo trabalho que passou abaixo do radar da crítica, Por um sentido na vida (em que arrancou a melhor atuação da carreira de Jennifer Aniston). No novo filme ele conta com um protagonista cuja imagem se confunde com a do personagem central. Michael Cera é o protagonista e Nick Twisp é seu personagem. Um garoto que é extremamente tímido, ciente disso e não parece muito disposto em reverter essa situação (o início do filme é das coisas mais sensacionais e minimalistas que se tem notícia no cinema recente), até que conhece Sheeni Saunders (Portia Doubleday). Uma garota tão idiossincrática quanto ele, embora seja bem mais segura e transpirante, que faz Nick estabelecer prioridades amorosas. A possibilidade de perder a virgindade também funciona como um estimulante. Nick precisa fazer de tudo para se aproximar de sua amada (e de seu objetivo), mas o destino parece tramar contra seu intento. É o ingresso nessa jornada e todas as reminiscências dela que fazem de Rebelde com causa um entretenimento acima da média. Como o roteiro é primoroso (tanto na abordagem quanto no trato da ideia) atraiu muita gente boa para pontas divertidas, como Zach Galifianakis, Steve Buscemi, Justin Long e Ray Liotta.
Miguel Arteta administra muito bem o ritmo do filme. As piadas fluem as mil maravilhas e Michael Cera está no comando do espetáculo. Ele brilha especialmente quando compõe François, uma variação de personalidade criada por Nick para lidar com situações potencialmente estressantes.
Rebelde com causa é um triunfo do cinema que se assenta em ideias. Captura um perfil de adolescente que existe, que funciona dramaticamente no cinema e lhe confere um novo status. É, em última instância, uma ótima análise do intercalamento de prioridades afetivas e emocionais e como se dão os prejuízos (e lucros) dessa relação.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Crítica - Cópia fiel

Cinema de questionamento

A primeira reação à Cópia fiel (Copie conforme, FRA/Itália/Irã 2010) é de estranheza. Confusão até. A matéria prima do novo trabalho do elogiado cineasta iraniano Abbas Kiarostami é a arte e uma das discussões mais longevas e interessantes que a gravita: acerca do valor de uma cópia, da autenticidade do original e do quão significante é o olhar na aferição de uma obra de arte. Mas o diretor iraniano é audacioso e faz do filme que discute a arte, a própria discussão. O fórum metalinguístico de Kiarostami começa explanativo e toma contornos herméticos, ainda que a narrativa seja leve e fluída. Uma conquista notável.
Em Cópia fiel, o escritor inglês James Miller (William Shimell) está na região da Toscana, na Itália, para palestrar sobre seu mais recente livro (que dá nome ao filme), em que promove um debate sobre arte e cópia. Miller parece convicto de que uma cópia bem feita tem tanto valor quanto a original. Ao mesmo tempo em que relativiza o valor da arte, a cópia o afirma, defende o inglês. Ele é desafiado, em um passeio aparentemente sem rumo, pela francesa dona de uma loja de antiguidades vivida por Juliette Binoche. Elle, a personagem da atriz, é flagrada dividida entre a adoração e o repúdio as ideias de Miller.
Em um primeiro momento, Kiarostami desenvolve seu filme como uma palestra propriamente dita. Ele lança suas ideias e a defende por meio de exemplos que os personagens tricotam em uma conversa cerceada por tensão e sobressaltos. De repente, após uma conversa travada entre Elle e a dona de uma cantina italiana, Cópia fiel se transforma em outro filme. Uma comédia romântica madura que guarda muitas semelhanças com o duo de Richard Linkaleter Antes do amanhecer/Antes do pôr do sol. Se essa condição é proposital ou não, provoca o diretor iraniano, cabe ao olhar do espectador.

Shimell e Binoche em cena de Cópia fiel: arte e amor têm esferas semelhantes e complementares na proposição de Abbas Kiarostami


O trânsito de ideias em Cópia fiel é tão vasto e complexo que ao seu final não se pode afirmar se o jogo de cena dos personagens se sucedeu por curiosidade intelectual, flerte incidental ou se o jogo de cena que existia (sem nos darmos conta) deu vazão a crua realidade, ainda que temperada pelo lirismo europeu que Kiarostami filma como o turista que é.
É inegável que Cópia fiel é um filme de ideias. Que se pretende erudito, ainda que desenvolvido na simplicidade dos diálogos. Contudo, o grande porém do filme, é que, em seu âmago, ele não convence. James Miller escreveu o livro para se convencer de suas próprias ideias, admite o próprio em determinado momento. Tudo leva a crer que Kiarostami rodou esse filme, seu primeiro no exílio na Europa, com o mesmo intuito. Mas Cópia fiel não cativa como cinema o tanto que cativa como ensaio. É uma pena. Apesar da boa química entre os atores, e Shimell em sua estréia é um achado, a fita se torna depositária do olhar do espectador. Essa volubilidade, até certo ponto pretendida, atesta a ideia do filme, mas o segmenta em apreciações genéricas como a força dos intérpretes, a beleza da Toscana ou a inteligência do roteiro de Kiarostami.

quinta-feira, 24 de março de 2011

O universo do cinema a um click...

“Buscando filmes de Alfred Hitchcock”. Essa foi a maneira como a paulistana Valdéria Rapozeiro, de 41 anos, descobriu o site de relacionamentos Vivacinema!. O espaço é criação do carioca Leandro Cunha, 28 anos, que em um movimento de empreendedorismo resolveu criar um espaço de interação cinéfila que pudesse lhe proporcionar ganhos. “Eu já trabalhava com internet há mais de 10 anos e a vontade de trazer a tona um projeto diferente e divertido já martelava minha cabeça há muito tempo”, conta com entusiasmo o carioca. Leandro afirma que sua paixão por filmes remete a infância quando passava horas assistindo filmes com seu pai. Leandro não se ressente do Vivacinema! ter ampla concorrência. Para o web developer, a internet oferece amplo espaço para todos. Helen Cristina da Silva, de 21 anos, moderadora de uma das principais comunidades de cinema do site de relacionamentos Orkut, concorda. “A (comunidade) Apaixonados por cinema surgiu de um desejo de falar de cinema. Parece simples, mas nós - apaixonados pelo cinema - sabemos o quanto é difícil conhecer pessoas com o mesmo entusiasmo”. É desse sentimento e dessa vontade perene de interagir com pessoas que desfrutam do mesmo gosto que comunidades cinéfilas como o Vivacinema! e o Apaixonados por cinema se sustentam e se multiplicam pela internet brasileira. Helen, filosofando, vai além: “na verdade, acho que as comunidades são o motivo do Orkut ainda ser sucesso no Brasil”. A fala de Helen ganha dimensão pelo fato do Orkut perder terreno a cada semana para o mais atraente Facebook. No Brasil, no entanto, a criação de Mark Zuckerberg ainda não se mostrou capaz de superar o Orkut em números gerais. “As comunidades permitem que possamos conhecer pessoas com gostos semelhantes. Sem esses grupos virtuais provavelmente jamais teríamos o prazer de nos conhecermos. É, por esse motivo, minha rede social favorita”, salienta a jovem moradora de Arcos (MG). Valdéria concorda e garante que essas comunidades virtuais deixam o cinéfilo mais a vontade para comentar e acaba proporcionando o surgimento de novas amizades.

Para Helen, as comunidades são o penhor do orkut no Brasil: "o motivo do sucesso"


Celebrando as diferenças

Mas o Vivacinema! e o Apaixonados por cinema, embora reúnam hordas de cinéfilos e tenham como objetivo primário a celebração da sétima arte, são diferentes. O primeiro é um produto com objetivo comercial definido enquanto que o segundo representa um nicho dentro de uma rede social. O Vivacinema! se pretende uma rede social cinéfila propriamente dita. Leandro apresenta dados que o avalizam: “O perfil dos frequentadores do Vivacinema! é bem eclético. Temos pessoas do Brasil inteiro participando da rede numa faixa etária que varia de 20 a 45 anos onde a proporção entre homens e mulheres fica em 45% a 55%”, esclarece.
Helen, por sua vez, afirma que se tornou mais cinéfila depois de fazer parte da Apaixonados por cinema. “Aprendi muito”, afirma.
A febre por redes sociais não parece próxima de um esfriamento. Portanto, você já sabe onde procurar gente que saiba sobre a biografia de Alfred Hitchcock, o novo filme de Tom Cruise e tenha palpites na ponta da língua sobre os filmes do próximo Oscar.

Momento Claquete # 11

 "A última estrela de cinema original", cravou o New York Times em editorial nessa quinta-feira em homenagem a Elizabeth Taylor que faleceu, aos 79 anos, ontem (23 de março) em sua casa em Los Angeles. Na foto, ela empunha sua segunda estatueta do Oscar, conquistada pelo papel em Quem tem medo de Virginía Woolf?, de Mike Nichols. 


 Taylor divide a cena com Montgomery Clift em Um lugar ao sol, um de seus maiores sucessos de público e crítica


 Abbie Cornish, jovem atriz australiana, em foto da GQ inglesa. A atriz estréia dois filmes no Brasil nessa sexta-feira (25 de março): Sucker punch-mundo surreal e Sem limites


 O bad boy por vocação Jamie Foxx está causando no Brasil em sua passagem para promover a animação Rio (que estréia no dia 8 de abril). O ator afirmou que só conhecia a cidade pelo repertório de produções voltadas para adultos e curte baladas diariamente desde domingo, dia que chegou ao país. Na foto, ele posa com atrizes do casting da rede Record em festa realizada em São Conrado.


 Anne Hathaway, que também está na capital carioca para divulgar a animação dirigida por Carlos Saldanha, foi gentil com fãs na fachada do Copacabana Palace, hotel em que está hospedada


Jodie Foster, John C.Reilly, Kate Winslet e Christoph Waltz dividem a cena de Carnage, novo filme de Roman Polanski. A fita deve ter premiere mundial no festival de Veneza 

terça-feira, 22 de março de 2011

Em Off

O último filme em que Ashton Kutcher não apareceu pelado, o novo filme de Tom Hanks, o que Sexo sem compromisso tem a ver com Um lugar chamado Notthing Hill e porque é melhor desconfiar do Robocop de Padilha são alguns dos destaques desta edição do Em Off.


Efeito Kutcher I

Pense rápido! Qual foi o último filme em que Ashton Kutcher não apareceu nu?
Errou quem pensou em Efeito borboleta (2004). Errou também quem foi ao longínquo 2000 para apontar Cara, cadê meu carro?. Não foi também em Por amor (2009) em que ia para a cama com Michelle Pfeiffer. Ele aparece apenas descamisado em filmes como Par perfeito (2010), Idas e vindas do amor (2010), De repente é amor (2006) e A família da noiva (2005). Mas o único filme em que Kutcher não exibe pele em demasia é O bicho vai pegar (2006). Também pudera, né?! Na animação, sua contribuição se restringe a dublagem....

To sexy to put a shirt: com 20 minutos de Sexo sem compromisso, Kutcher já havia exibido seu derrière...
 
 
Efeito Kutcher II


Exibicionista, não seria incorreto afirmar que Ashton Kutcher ajudou a popularizar o Twitter nos EUA. Primeira celebridade de escala mundial a aderir à rede social, Kutcher serviu como expressão do status jovem da plataforma.
Casado com a atriz Demi Moore e receptivo à curiosidade alheia, seus filmes sempre rendem uma média bastante satisfatória. O ator tem um público cativo (formado majoritariamente por teens de classe média) que está disposto a prestigiá-lo em seus arroubos de vaidade fílmica. Desde Jogo do amor em Las Vegas, lançado no verão americano de 2008, Kutcher lançou cinco filmes (três produzidos por ele) e teve uma média de bilheteria de U$ 70 milhões nos EUA. Não chega a ser um campeão de bilheteria, mas o jeito despojado e moderninho de Kutcher vende e quem paga, paga bem.



Um lugar chamado Nothing Hill 12 anos depois = Sexo sem compromisso

Se você reparar são muitas as semelhanças entre Sexo sem compromisso, em cartaz nos cinemas, e Um lugar chamado Notthing Hill que arrastou multidões para os cinemas em um dos últimos grandes sucessos da carreira de Julia Roberts no gênero. Tanto lá quanto cá, há uma mulher autosuficiente, receosa de uma relação íntima e um homem um tanto abobado ansioso por ela. Tanto lá quanto cá o sentimento surge depois do sexo e tanto lá quanto cá o homem é “magoado” antes do final feliz. É bem verdade que essa estrutura também pode ser encontrada em outros filmes, o que não tira o mérito dessa comparação em particular...



Considerações sobre o novo Batman


Christian Bale, Michael Caine, Joseph Gordon Levitt, Anne Hathaway, Tom Hardy e, muito possivelmente, Marion Cottilard estarão o novo filme do Batman. The dark knight rises terá a difícil missão de, no mínimo, se equiparar a O cavaleiro das trevas. Até o título alude ao filme que Heath Ledger imortalizou como do coringa.
Não será fácil para Christopher Nolan igualar o feito de O cavaleiro das trevas. Nas bilheterias a missão pode até ser realizada, mas a qualidade do filme de 2008 não é fácil de ser reproduzida. Assim como ocorreu com Heath Ledger, que meio mundo desaprovou como escolha para intérprete do coringa, Anne Hathaway – a primeira vista – não parece talhada para viver a mulher gato. Mas Nolan sabe o que faz e nós não sabemos o que dizemos.



O Robocop de Padilha

Na última semana foi confirmada a contratação de José Padilha como diretor do reboot que a MGM planeja para Robocop. Os executivos do estúdio, que é bom lembrar enfrenta uma recuperação judicial, se impressionaram com o trabalho de José Padilha nos dois Tropa de elite. A opção pelo brasileiro chega depois da consideração dos nomes de Darren Aronofsky (que chegou a participar da pré-produção antes da quebra do estúdio) e do espanhol Juan Carlos Fresnadillo (diretor de Extermínio 2).
Padilha, em entrevista ao Motion TV online, demonstrou segurança e entusiasmo com a nova empreitada: “Eu só faço filmes que me interessam pelo conteúdo. Podem esperar um controverso, diferente, irônico e violento Robocop”, afirmou.
Contudo, as barbas precisam ficar de molho. O olhar clínico de Padilha para a violência no Rio de Janeiro e sua perícia em construir cenas de ação com recursos limitados pode ser muito importante do ponto de vista técnico, mas falta ao diretor exuberância ficcional. Robocop é um blockbuster americano. Essencialmente fantasioso. O descompasso terá de ser apurado na confecção do roteiro, já iniciada em conjunto com Josh Zetumer (que teve mais roteiros descartados do que filmados até a presente data).



A nova brincadeira de Tom Hanks

Afastado da direção desde sua estréia, que ocorreu com The Wonders – o sonho não acabou (1996), Tom Hanks volta às telas de cinema em 2011 e também para trás das câmeras com Larry Crowne. A história de um cara que já foi nove vezes funcionário do mês e que após ser demitido resolve se reciclar cursando uma faculdade chega ao país em julho. Frequentar a faculdade da comunidade local irá lhe proporcionar uma experiência renovadora. A comédia com tom existencial deve reforçar, como se fosse preciso, o estereótipo de bom moço de Hanks. Julia Roberts está lá para garantir que isso aconteça. Confira o trailer:


segunda-feira, 21 de março de 2011

Crítica - Sexo sem compromisso

Aos finais felizes!


Em tempos como o do “ficar”, de brincadeiras cada vez mais sexualizadas e em que namorados já foram amigos e amigos já foram namorados, faz sentido um filme como Sexo sem compromisso (No strings attached, EUA 2011). A nova fita de Ivan Reitman ambiciona se comunicar com um público mais diversificado, liberal e que costuma se sociabilizar tendo o sexo como principal canal. Não á toa, em Sexo sem compromisso, os protagonistas primeiro transam e depois se apaixonam. Este dado por si só, já dimensiona a representatividade de Sexo sem compromisso na nova ordem das comédias românticas americanas. Menos puritanas, mais desavergonhadas, mas alinhadas às mesmas diretrizes. Ainda não se pode dizer que presenciamos um maio de 68 no gênero, mas é possível dizer que ele está à esquina.

Ashton e Natalie em momento fofura: o problema do filme
reside na indecisão em romper com certos paradigmas da
comédia romântica

Na fita, Natalie Portman vive Emma, uma estudante de medicina que não vê com bons olhos relacionamentos amorosos. A percepção da moça é de que dependência emocional não gera bons dividendos a médio e longo prazo. Adam (Kutcher), que vive cruzando com ela, pensa diferente. Ambos vão se envolver em uma relação sexual, de pura catarse física, com direito a aviso prévio se as coisas saírem dos trilhos. Mais século XXI impossível. Mas como antes do século XXI tem os séculos XX e XIX, as coisas previsivelmente saem dos trilhos. Enquanto Adam esboça interesse em namorar, Emma resiste a ideia. Ivan Reitman se esforça para reger uma história que ele sabe que não vai dar certo. E o grande problema do filme é que ninguém acredita que Adam e Emma não sucumbirão aos ardis da paixão. Se fica tudo muito bonitinho em Sexo sem compromisso, e fica, sai dessa aparente normalidade o grande entrevero da fita. A ideia de final feliz parece deslocada no tempo. Ao buscar o diálogo com um público mais moderno e idiossincrático, a fita acaba doutrinando valores que esse público não compactua. Ao mesmo tempo que o charme da premissa não atrai quem por ela não usufrui interesse. Essa dicotomia é contumaz do momento de renovação que atravessa a comédia romântica. Esse gênero que busca credibilidade e novidade na figura de Natalie Portman e conforto e segurança na de Ashton Kutcher.

domingo, 20 de março de 2011

Insight

A (possível) verdade por trás do afastamento de Darren Aronofsky de The Wolverine



Era setembro de 2010 e a produção da sequência de X-men origens: Wolverine queria mudar radicalmente o rumo da cinessérie que, em 2009, embora tenha feito boa bilheteria, decepcionou público e crítica. Darren Aronofsky surgiu como um nome confiável nas hostes do estúdio Fox. O diretor era amigo do protagonista (rodou com Hugh Jackman o pesudofilosófico Fonte da vida), mantinha boa relação com o estúdio (seus dois últimos filmes foram lançados pelo selo independente da Fox, a Fox Searchlight) e, assim como Christopher Nolan na franquia do Batman, era um cineasta de retórica artística e com potencial comercial. Em outras palavras, um achado.
Aronofsky foi contratado e, às vésperas da exibição de Cisne negro em Veneza, anunciado como o novo diretor do filme. O entusiasmo foi imediato. Em toda oportunidade em que promovia Cisne negro, Aronofsky demonstrava satisfação e ansiedade com seu novo projeto. Via com bons olhos uma guinada na carreira e a chance de se provar um cineasta de trânsito e confiança.
Há pouco mais de dois meses, Aronofsky deu uma longa entrevista ao Hollywood Reporter em que esclarecia que o filme se passaria no Japão, que o roteiro era maravilhoso, que a fita não seria uma continuação do filme de 2009 e que se chamaria The Wolverine.
A produção do filme foi agendada para o final de março, para que Aronofsky – que acabou indicado ao Oscar como diretor – pudesse acompanhar a promoção de Cisne negro durante a temporada de premiações. Estava tudo certo. Estava.
Essa semana foi anunciado, com certa dose de espanto, que Aronofsky estava se desligando da produção do filme. Às vésperas do início das gravações e com a pré-produção praticamente encerrada. A justificativa oficial é de que Aronofsky não se sentia preparado para passar um longo período (aproximadamente um ano), no Japão, longe de sua família. A Fox lamentou a desistência de Aronofsky, reafirmou a intenção de colaborar com o diretor no futuro e garantiu que está tudo pronto para o início da produção com outro diretor à frente do projeto.
No entanto, reportagem do Hollywood Reporter sugere que o que de fato se deu foi bem diferente. Segundo apurou o semanário americano, Aronofsky teria reivindicado controle absoluto sobre o corte final do filme, algo que está acostumado a ter no cinema independente e que o colega Nolan teve assegurado com a franquia do Batman. O estúdio não teria concordado. Como política compensatória, teria oferecido um aumento no salário de Aronofsky. O diretor, no entanto, teria insistido no controle total sobre a obra e, em consequência disso, amigavelmente demitido do cargo.


                                                        Foto: AFP
Aronofsky, ao lado de Natalie Portman, em coletiva realizada no último festival de Toronto: a boa receptividade aos últimos filmes do diretor não vingou como trunfo nas negociações com o estúdio


A justificativa oficial realmente é mais furada do que queijo suíço. Com a aprovação do roteiro e do orçamento, já era possível mensurar o período de filmagens no Japão e um cronograma familiar para que pudesse ser ajustado ao do filme. É sempre assim em Hollywood. Embora não se possa confirmar efetivamente, pelo menos não agora, é muito provável que a saída de Aronofsky de The Wolverine derive de uma briga por controle criativo.
Christopher Nolan só teve seu controle assegurado na franquia do Batman porque era necessário arriscar depois da passagem de Joel Schumacher nos filmes do homem morcego. O mesmo Nolan passou apuros com a Warner para garantir que o terceiro Batman de sua autoria não fosse rodado em 3D. Ele ainda não conseguiu dissipar as intenções do estúdio de realizar uma sequência para A origem. Recentemente, a Sony demitiu a equipe criativa do quarto Homem aranha por discordar dos rumos da série no cinema. O novo Homem aranha chega ano que vem. Será a primeira oportunidade de se mensurar o impacto da mão de ferro dos estúdios na qualidade dos blockbusters; nos quais buscam cineastas com visão só para se dar o trabalho de tapar-lhes a vista.

Cenas de cinema

A doce vida de Jude Law

Jude Law, de brahmeiro, como atração do carnaval carioca no camarote


Ele sabe que seu charme cativa grande parte do público feminino. O sotaque britânico tempera Jude Law, diriam os mais entusiasmados com o pedigree do ator de 38 anos que esteve no Brasil recentemente. Law foi contratado por uma marca de cerveja para fazer figuração em seu camarote no domingo de carnaval. Chegou ao Brasil no sábado, partiu na segunda, trouxe a companhia de dois amigos, se encantou com as mulheres brasileira (Law está solteiro novamente depois do novo rompimento com a atriz Sienna Miller há alguns meses), ganhou bitoca da Hebe e outros U$ 270 mil por tudo isso. No final de semana anterior, Law que causou frisson ao entregar um par de Oscars ao lado do colega de Sherlock Holmes Robert Downey Jr., curtiu a valer o pós-festa organizado pela Vanity Fair. Como Law não é você, reza a lenda hollywoodiana que recebeu cantadas de garotas como Emma Stone,Vanessa Hudgens e Scarlett Johansson. A vida pode ser difícil para alguém como Jude Law.



Fassbender... Michael Fassbender

O alemão mais bem cotado em Hollywood atualmente sabe fazer sotaque inglês. Ele é um bastardo de Tarantino e, talvez, você não lembre muito bem da cara dele. Mas depois de 2011 será difícil não ligar o nome a pessoa. Michael Fassbender tem nada menos do que seis filmes para lançar em 2011. Para 2012 já estão agendados outros três. Ele será o Jung de David Cronenberg no filme do cineasta canadense sobre Freud, o magneto do blocbuster com pinta filosófica X-men: primeira classe e o objeto de paixão da Jane Eyre de Mia Wasikowska, para citar os mais comentados. Fassbender, que ano passado esteve em Centurião, pode ser sempre um bastardo de Tarantino, mas não quer ficar conhecido dessa maneira.


A glória de um bastardo: 2011 promete mudar definitivamente o status de Fassbender em Hollywood



A frase é:

“Desafio alguém a não se sentir tocado pela incrível humanidade da performance de Mel nesse filme”
Jodie Foster na premiere americana de seu novo filme, Um novo despertar, em que dirige o astro que tem uma quedinha por escândalos




Em um planeta beeeem longe de você...

A coisa não vai bem para Homens de preto 3. Depois de algum desgaste, os produtores conseguiram reunir Barry Sonnenfeld, Will Smith e Tommy Lee Jones (os principais responsáveis pelo sucesso dos dois primeiros filmes) e garantiram o terceiro filme em 3D com os acréscimos de Josh Brolin e Alec Baldwin como agentes MIB. Contudo, a coisa desandou. Primeiro o orçamento não fechava. Depois, três versões do roteiro foram rejeitadas. A quarta, que havia sido aprovada, teve de ser reescrita recentemente. Agora, a nova bomba é a saída de Alec Baldwin, que se cansou de esperar e se desligou da produção. A desistência de Baldwin deve gerar novos contratempos e a realização de um filme que tinha tudo para dar certo pode não acontecer.



As meninas de Zack

É o fetiche de qualquer menino. Zack Snyder, aos 44 anos, realiza esse fetiche com algumas concessões em Sucker Punch – mundo surreal, fita que estréia na próxima sexta-feira no Brasil e nos EUA. O primeiro filme 100% original de Snyder (que até então vinha com refilmagens e adaptações) transforma um sanatório em bordel, mas tudo com o charme da imaginação de uma adolescente incompreendida. As musas do sanatório que se transformam em prostitutas de mentirinha são vividas pelas estonteantes Emily Browning (cujo principal crédito remete a Desventuras em série de 2004), Abbie Cornish (recentemente vista em Brilho de uma paixão), Vanessa Hudgens (recentemente vista nua em fotos na internet), Jena Malone (que já participou de filmes díspares como O solista e As ruínas) e Jamie Chung (que esteve no elenco de moçoilas do horrível Pacto secreto). Snyder havia recrutado gente como Amanda Seyfried e Emma Stone, que gozam de mais popularidade, mas quem ousa apontar defeitos em um time como esse?

sábado, 19 de março de 2011

Cantinho do DVD

Kevin Smith é um diretor que tinha o sonho de ser pop, underground, reconhecido, trabalhar com estrelas e controlar grandes orçamentos. De certa forma conseguiu seu intento, mas nunca em um só trabalho. Seu novo filme, um terror independente, debutou no último festival de Sundance após Smith angariar verbas na internet para realizá-lo. Antes de Red State, no entanto, o diretor fez seu primeiro filme assumidamente blockbuster, Tiras em apuros. Mas o filme estrelado por Bruce Willis e Tracy Morgan não está a altura das expectativas fomentadas pelo diretor de O balconista e Procura-se Amy. Descubra o por quê na crítica a seguir:



Crítica

Kevin Smith sempre evitou o cinema comercial. O diretor de vocação indie realizou filmes às margens do circuito (Dogma, O balconista, O império do besteirol contra ataca, entre outros) sempre com forte identidade autoral e com profusão de referências pop. Smith, porém, nunca escondeu que queria ser um diretor de blockbuster. Com astros sob seu comando e orçamentos generosos de produção. Seu primeiro projeto mais próximo dessa realidade foi Pagando bem, que mal tem?, uma comédia escrachada com alguns bons momentos, mas que parecia mais grossa do que descolada. O próximo passo foi Tiras em apuros (Cop out, EUA 2010). Uma fita de ação estrelada por Bruce Willis (de quem Smith é fã ardorosamente confesso) e Tracy Morgan. A ideia é que Tiras em apuros funcionasse como uma paródia dos filmes estrelados por duplas policiais. Como paródia, Tiras em apuros é de uma pobreza ímpar. As referências estão lá, mas falta liga para fazê-las funcionar.
Tracy Morgan e Bruce Willis se esforçam nas caracterizações de seus personagens (dois patifes bem intencionados), mas o texto é mesmo ruim. É lógico que uma ou outra piada funciona (seria catastrófico se isso não ocorresse), mas esse resultado não deixa de ser frustrante para um filme que se pretendia sarcástico e divertido. A trama (que gira em torno da necessidade do personagem de Willis em reaver um item de colecionador para que possa bancar o casamento da filha) é esticada ao máximo e não rende os dividendos cômicos pretendidos.
Mas o que pesa mais contra Tiras em apuros é ver a identidade autoral de Smith diluída em uma fórmula comercial desgastada. Estão lá as referências pop que o distinguiram em primeiro lugar, mas sem a expertise de outrora. Estão lá, apenas, para viabilizar arroubos de grosseria gratuitos que pouco fazem por seus fãs, quanto mais por expectadores ocasionais. Sean William Scott faz uma participação eficiente como um pentelho que desencadeia toda pendenga em que Willis e Morgan se enfiam. No fim das contas, Tiras em apuros, embora seja o lançamento de maior visibilidade de Smith (o que não impediu de se configurar em seu maior fracasso), representa a derrocada de um cineasta que uma vez foi conhecido por fazer do comercial uma forma de pensamento artístico.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Cinema e internet: um caso de amor, ódio, pirataria e empreendedorismo

Não há mais dúvidas de que a internet proporcione novas experiências cinematográficas. A própria existência de Claquete afirma isso. Discute-se, nos mais variados setores, o impacto da internet na linha de produção, na percepção e na lucratividade de diferentes produtos. Com o cinema, não poderia ser diferente. “Eu já trabalhava com internet a pouco mais de 10 anos e a vontade de trazer a tona um projeto diferente e divertido já martelava minha cabeça a muito tempo”, a frase poderia ser de qualquer empreendedor que fez fortuna com a internet, mas é de Leandro Cunha, um carioca de 28 anos que ajuda a entender a “geração Mark Zuckerberg” (nome do criador do Facebook, principal site de relacionamentos da atualidade e o bilionário mais jovem do planeta). Neologismo de fácil acesso e trânsito em um tempo que redes sociais e sites de compra coletivas pipocam na internet como ideias de ontem. Cunha, que é web developer, “empreendedor por natureza” e, talvez na qualificação mais importante, “apaixonado por cinema” teve um estalo. “Eu realmente não fazia idéia de que já existia algo parecido”, afirma ao rememorar sua motivação para criar em parceria com Rafael Amorim, seu “guru da tecnologia”, o Vivacinema!. A ideia do site é agregar e fornecer um espaço de interação cinéfila.
“Nosso objetivo é fazer com que o Vivacinema! se torne uma referência quando se falar em cinema na internet. É proporcionar uma interação única a quem gosta de cinema, trazer experiências pra quem está ali assistindo a um filme. Conseguir com que as pessoas interajam na rede social mas que isso possa também se estender para o mundo real com encontros. Enfim mudar a maneira convencional de simplesmente assistir um filme”.
A jornalista Neusa Barbosa, editora do site Cineweb, enxerga nessa resistência às convenções algo intrínseco a essência da internet. “A internet não foi bem compreendida nem assimilada por estúdios, distribuidores, produtores – muitos a consideram apenas “mídia espontânea”, portanto, gratuita, como eles gostam de dizer.” Para a jornalista, ainda não é possível precisar os impactos que a internet pode alavancar no cinema a longo prazo.
“A tecnologia não para, vem mais novidades por aí”, profetiza convicta. Convicção falta à jornalista, assim como à industria, no que concerne a estratégias para abater as crescentes quedas de público nos cinemas. “O sistema de distribuição como o conhecemos, sem dúvida, está vivendo seus últimos dias. Mas não estou segura do que o substituirá. Porque é necessário criar mecanismos para que os downloads sejam feitos com segurança, qualidade do que se obtém (quem quer ver filmes sem foco, com som horrível?) e também garantindo algum tipo de remuneração para seus autores. Sem essa remuneração, a indústria acaba...”.

O site Amocinema.com é outro espaço de interação cinéfila. Uma manobra do gurpo Turmer que controla o canal pago de maior audiência da TV brasileira, a TNT, para expandir a experiência de se ver filmes. Não há um comercial do canal que não destaque o Amocinema.com



Pirataria

A observação de Barbosa leva a uma outra trincheira que se agigantou com a popularização da internet e, ainda que em menor escala no Brasil, com o acesso à banda larga. A pirataria é um tema delicado que suscita paixões e intervenções nem sempre equilibradas. Grandes momentos dessa discussão foram vividos nas circunstâncias dos lançamentos dos dois filmes Tropa de elite. Enquanto que uma cópia preliminar do primeiro “vazou” e se proliferou, a produção do segundo foi alvo de esquemas militares de segurança. Os resultados das bilheterias sugerem as considerações acerca do debate, embora haja quem insista que sem a “benesse” do comércio ilegal, o primeiro Tropa nunca conseguira a repercussão que obteve.

Cena de Avatar, o filme de maior bilheteria da história do cinema também foi a produção mais baixada ilegalmente em 2010 segundo estatística do MPAA (Motion Picture Association of America) 



“Esse foi o tema da minha prova de vestibular”, explica Helen Cristina da Silva, mineira de 21 anos, cinéfila declarada e moderadora de uma das maiores comunidades de cinema do orkut, Apaixonados por cinema. “Eu fiquei tão em dúvida, vou conservar a mesma opinião”, continua a reflexão. “Sou de certa forma a favor, não totalmente, mas entendo o que leva o brasileiro, em particular, a consumir esse tipo de produto. A acessibilidade aos originais é pequena e confronta com a situação financeira da maior parte da população brasileira, então, o que resta são as opções alternativas. Hoje, sou mais a favor de se baixar um filme, por não ser um comércio ilegal como é o caso da pirataria.”
Helen não está sozinha nesse círculo de pensamento. Não obstante, artistas, distribuidoras, selos musicais e outras empresas ligadas a produção audiovisual e musical se juntaram em campanhas de conscientização. Exibidas em cinemas, DVDs originais, em canais como MTV, entre outros, essas campanhas tem como objetivo alcançar esse público. Tentando conscientizá-lo de que ao burlar as vias oficiais, ele prejudica o artista que aprecia.
Não é, por razões como apontou Helen, uma tarefa fácil de se obter sucesso.

Wagner Moura em cena do primeiro Tropa de elite: o filme foi visto por aproximadamente 12 milhões de pessoas antes da estréia nos cinemas



Modificando a experiência cinema

Mas não cabe à pirataria a primazia de modificar a experiência de sentir e reverberar o cinema. A pirataria é mais um reflexo do que causa. A internet, conforme avança em seus desdobramentos e possibilidades, obriga o cinema enquanto plataforma a reinventar-se e a compreendê-la enquanto indústria. As redes sociais, nesse sentido, contribuíram imensamente para uma nova e intensa maneira de se experimentar um filme.

Cena de Batman-o cavaleiro das trevas: o filme de Chris Nolan será o primeiro a ser disponibilizado por streaming no Facebook. A princípio, o serviço estará disponível apenas nos EUA e faz parte de uma nova estratégia de distribuição desenvolvida em conjunto pelo gigante da internet e pelo estúdio Warner Brothers

“Isso é positivo especialmente para a repercussão do filme, o chamado “boca a boca” – que se tornou mais rápido do que nunca, via Twitter, sem demandar investimentos maiores na divulgação. Agora, se o filme tiver uma repercussão negativa, isso também se propaga mais rápido”, lembra a jornalista Neusa Barbosa. O Twitter já se provou uma ferramenta voraz na divulgação de filmes como Atividade paranormal e Distrito 9 (ambos de 2009) e, mais recentemente, Cisne negro que foi uma febre no Twitter brasileiro. Curiosamente, campanhas planejadas no Twitter por distribuidoras não rendem os mesmos dividendos. Apesar de ser um excelente canal para promoções e veiculação de brindes, a voz do Twitter parece guiada pelo acaso dos gostos da maioria o que dificulta a ação do marketing.
Dentro desse escopo, é natural que comunidades e redes sociais específicas sobre cinema fossem surgindo gradativamente (mais sobre isso na matéria que será publicada na próxima quinta-feira). Atualmente, a experiência cinematográfica parece intimamente relacionada com a experiência de se navegar na internet. “Eu visito quase diariamente vários portais e sites sobre cinema e entretenimento e, pra ser sincera, qualquer link sobre cinema é muito convidativo”, encerra Helen com a convicção de quem sabe que cinema e internet se completam.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Panorama - Três reis

David O. Russell tinha a seu favor o anonimato quando lançou Três reis (Three kings, EUA 1999). Vantagem que o sucesso de crítica do filme lhe roubou. Aqui Russell potencializa o olhar irônico e o cinismo calculado que permeara seu trabalho anterior. Três reis não é um drama de guerra. É uma comédia sobre o fim de uma guerra. E essa constatação faz toda a diferença. Russell compreende que a melhor maneira de se estabelecer uma crítica é não se levar a sério. E Três reis sobeja na arte de não se levar a sério. Russell não se interessa mais pela alegoria política do que pelo absurdo da situação de um grupo de soldados americanos entediados resolverem roubar o ouro de Saddam Hussein. O despertar de consciência desse grupo é igualmente tratado com desdém pelo diretor que não se incumbe de fazer sua audiência acreditar no súbito amor ao próximo de seus personagens. É esse misto de admiração e desdém que pauta a narrativa de Três reis. Uma equação fácil de se apreciar, difícil de se obter. A verve de Russell pode ser sentida justamente aí. Na força com que conduz uma história que poderia resultar em muitos erros, mas que se transforma em uma soma de acertos em muito pelas opções da realização. Tecnicamente empolgante (a fotografia e a montagem da fita são impactantes), Três reis é o cartão de visitas de Russell em Hollywood. Doze anos depois, ainda é o melhor que ele tem em mãos.

terça-feira, 15 de março de 2011

Momento Claquete # 10

Leonardo DiCaprio e aquele cigarrinho em uma das primeiras imagens de J. Edgar, filme sobre o idealizador do FBI, que Clint Eastwood grava no momento e que será um dos principais lançamentos do outono americano

Steven Spielberg, por sua vez, tem dois lançamentos programados para 2011. Um deles é War horse, um drama de guerra centrado na figura de um cavalo. A fita estreia nos cinemas americanos em 28 de dezembro


Rooney Mara, que dá um pé na bunda do Mark Zuckerberg de Jesse Eisenberg no começo de A rede social, em foto promocional do novo filme de David Fincher, o remake americano do sueco The girl with the dragon tattoo que também estréia no final de 2011


Zack Snyder dá orientações para as meninas de Sucker Punch, amalucada e aguardada ficção científica do diretor de 300 que estréia mundialmente na próxima semana


Zoe Kravitz, filha de quem você está pensando, prestigiou a premiere americana de Jane Eyre, nova versão cinematográfica do romance da escritora inglesa Charlotte Brontë. Zoe está no elenco do aguardado X-men: primeira classe


Britney Spears demonstra flexibilidade e outras coisitas mais no sensual ensaio de capa da revista OUT! de abril. Britney lançará seu novo álbum nos próximos dias

domingo, 13 de março de 2011

Claquete Repercute - Três reis

Em 2011, ainda, é possível afirmar que 1999 foi um dos melhores anos para o cinema americano moderno. Foi o ano de Matrix (que já foi tema de Claquete repercute), de Beleza americana, O informante, O sexto sentido, Quero ser John Malkovich, Magnólia, História real, Star wars: ameaça fantasma, A múmia e Clube da luta (todos merecedores de figurarem em Claquete repercute). E foi o ano de Três reis (Three Kings, EUA 1999). O filme que, mais do que ter revelado o talento bruto de David O.Russell (e ele não saberia o que fazer com a consagração crítica embaixo dos braços), mostrou um cinema de ideias que podia sim falar de guerra sem ceder ao drama e ao registro histórico. Podia aventar-se política sem precisar ser professoral. A chatice, na proposta de Russell, cedia lugar a uma verborragia pop. Passa por aí a escalação do elenco. George Clooney, o bonitão da TV que então se viabilizava como astro de cinema; Mark Wahlberg, o ex – rapper e deliquente social Marky Marky em busca de abrigo artístico no cinema; Ice Cube, um rapper de expressão cultural que transitava pelo cinema como estilo de vida e Spike Jonze, um cara estranho que naquele ano lançaria um dos filmes mais originais da história recente do cinema americano.
Três reis começa no fim da primeira guerra do Iraque. No momento em que George Bush, pai, recuou após estratagemas políticos envolvendo o Kuwait, decepcionando milhões de iraquianos. Acompanhamos quatro soldados americanos, em um misto de enfado e ousadia, na jornada para roubar o ouro que Saddam Hussein havia roubado do Iraque. Esses caras não são exatamente bonzinhos, mas também não são vilões. Russell trabalha com aquela noção anticlimática de que ladrão que rouba ladrão tem 100 anos de perdão. Estamos doidos para perdoar essa turma que se aventura pelo deserto iraquiano em busca de sua aposentadoria. Russell também. Daí a guinada do filme. Os quatro soldados americanos que, até então serviam como alegoria para a intervenção americana no Iraque, se compadecem da miséria e desgraça de um grupo de rebeldes e se junta a eles na causa. Tudo conduzido com muito humor, desapego, cinismo e – ainda assim - com mão firme por Russell que também assina o roteiro.

Cinismo e verborragia marcam um dos filmes mais inteligentes do final do milênio passado


O filme que mostra um iraquiano guardando um mapa na região anal e que, em uma cena das mais bacanas, mostra como a América tem o melhor soft power ¹ (George Bush wants you!, brada George Clooney para um punhado de iraquianos em um dado momento da fita) é das produções mais inteligentes sobre um conflito armado. De qualquer natureza e procedência.
O mais interessante de tudo, é que Três reis foi concebido antes do 11 de setembro e da posterior invasão americana – conduzida por Bush filho – ao Iraque. Os eventos da última década apenas conferiram ao filme mais brilhantismo e modernidade. Desde as intenções iniciais até o repúdio a guerra e a solidariedade aos civis iraquianos que se espalharam pelos EUA entre os anos de 2006 e 2010. Diferentemente do oscarizado Guerra ao terror (tema da última seção Claquete repercute), Três reis é político até a alma. E é pop também. Para o bem e para o mal, é um retrato tenaz da América profunda. Seja ela a do Bush pai, do filho, ou de Obama.



1 – Conceito amplamente conhecido no meio acadêmico pelo qual os Eua (ou qualquer outra nação) afirma seus valores e interesses econômicos, políticos ou de qualquer outra ordem por meio de influência cultural

Insight

O que se passa com Steven Soderbergh?



Ele é um dos diretores mais criativos do cinema atual. Conseguiu a façanha de ser indicado duplamente ao Oscar de melhor diretor (por Traffic e Erin Brockovich-uma mulher de talento) no ano 2000. Não obstante, transita pelo cinema independente com a mesma leveza e repercussão de suas incursões comerciais. Logo por sua estréia em longa metragens, faturou a Palma de ouro e fez de Sexo, mentiras e videotape (1989) o primeiro filme independente americano de grande repercussão internacional (inclusive nas bilheterias).
Os críticos do cinema de Steven Soderbergh atacam sua veia workaholic como uma das razões do que entendem ser uma falta de identidade de seu cinema. Soberbergh, ainda que por vias tortas, vem dá razão a essa turma. O diretor já havia confidenciado aos mais próximos (e Matt Damon posto a boca no trambone) que considerava se aposentar do ofício de dirigir. Buscava uma mudança de rumo e via a pintura e a fotografia como destinos profissionais possíveis (bom frisar que ele já não precisa do dinheiro né?!). Soderbergh anunciou esta semana, em um programa de rádio americano, que esse dia (da aposentadoria como diretor) está mais próximo do que se imagina. Segundo Soberbergh, ele já não sente a excitação de outrora em dirigir filmes (o que, diriam os profissionais da intriga, se deve a saturação de projetos; em 2011 ele lançará três filmes). O diretor disse que tem recusado todas as propostas que tem recebido nos últimos três anos. Após Liberace (filme sobre um pianista homossexual com Matt Damon e Michael Douglas) e Man from U.N.C.L.E (ainda sem detalhes revelados) que o unirá a seu grande amigo, sócio e ator preferido George Clooney, Soderbergh irá dizer adeus. Ou até logo. Aos 47 anos, o cansaço do prolífero diretor, produtor e roteirista é compreensível. Grandes diretores já usufruíram de longos hiatos. Soderbergh talvez rejeite essa percepção, mas não pode dizer que não sentirá vontade de voltar a dirigir e que não irá fazê-lo. Afinal, foi por experimentar essa excitação efervescente – de que sente falta agora - que ele se embrenhou em uma rotina esmagadora de projetos. Nos últimos cinco anos, contando colaborações em roteiros, atuações como produtor e trabalhos como diretor foram 40 filmes. É muita coisa. Che, projeto audacioso sobre o revolucionário argentino Che Guevara, foi rodado em cinco países diferentes e Soderberg dirigia, ao mesmo tempo, o terceiro filme da série Onze homens e um segredo. A aposentadoria, ainda que ele negue, parece mais com férias prolongadas.

sábado, 12 de março de 2011

Cantinho do DVD

A Warner e a DC Comics sofreram em 2010 o primeiro revés na tentativa de rivalizar com a Marvel no cinema. Enquanto a editora (e estúdio) se prolifera no cinema com personagens tidos do segundo escalão (Homem de ferro, Hulk, Thor e Capitão América), a Warner (que distribui e produz os filmes da DC) aposta todas as suas fichas em Lanterna verde em 2011. O primeiro termômetro, Jonah Hex, herói pouco conhecido fora do mercado americano não foi bem no cinema. O filme, que até traz um elenco estrelado, capengou nas bilheterias e foi um sonoro fracasso. Não arrecadou nem metade do que custou. A Warner só não se avexa de vez porque a produção não teve a pompa que Lanterna verde está recebendo. Contudo, ficam algumas lições. A maior delas não é nenhuma novidade. Não precisa seguir piamente o material original, mas deve-se guiar por ele. E não se refere apenas a história, mas ao espírito da obra. Jonah Hex, que é o destaque de Cantinho do DVD desta semana, está aí para provar por A mais B que a Marvel não está dando certo no cinema por acaso.




Crítica
Na febre por adaptações de HQs muita coisa ruim é produzida. Mas pior do que isso é ver bons materiais adaptados de maneira desleixada e preguiçosa. Essa é a sensação que predomina após uma sessão de Jonah Hex – o caçador de recompensas (Jonah Hex, EUA 2010). O filme, um dos maiores fracassos de bilheteria de 2010, nem mesmo chegou aos cinemas brasileiros, sendo distribuído diretamente em DVD.
A fita de Jimmy Hayward se baseia em um célebre personagem do selo adulto da DC Comics. Jonah Hex mistura elementos do Western, gênero cinematográfico muito apreciado nos EUA que rende bons frutos em outras mídias, com características sobrenaturais. Jonah Hex é um pistoleiro sem pátria, que após uma experiência de quase morte pode se comunicar com os mortos, e atua como caçador de recompensas. O filme opta por criar um embate moral que em si nunca convence. Hex (Josh Brolin no limite da canastrice) após desertar do exército vira alvo de um militar lunático (John Malkovich, no piloto automático). A trama investe nesse confronto entre o bom e o mau como uma tentativa de se viabilizar. Optasse por aproveitar o humor negro do original e por uma narrativa menos convencional talvez fosse mais bem sucedido, pelo menos do ponto de vista qualitativo. O filme não é ruim, mas lançado em uma época em que produções baseadas em HQ estão em um nível de qualidade crepuscular, soa ingênuo um filme como Jonah Hex. Perto de O cavaleiro das trevas e Homem de ferro, o filme estrelado por Josh Brolin é apenas um entretenimento modesto.
Uma ou outra piada funciona bem e vale a pena conferir as participações especiais. Aidan Quinn aparece barbudo como o presidente americano, Jeffrey Dean Morgan faz um defunto que guarda mágoas de Hex, Michael Fassbender (cada vez mais in desde Bastardos inglórios) faz um capanga amalucado e Megan Fox faz uma reprodução de Mikaela (sua personagem em Transformers) no tempo das diligências.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Em off

The ides of march

George Clooney voltará à direção, pela quarta vez, para rodar uma história essencialmente política e humana. Baseado na peça de autoria de Beau Willimon, o filme mostra os bastidores de uma campanha democrata a presidência dos Estados Unidos. O elenco de peso terá Philip Seymour Hoffman, Marisa Tomei, Ryan Gosling, Chris Pine, Paul Giamatti, Evan Rachel Wood e o próprio Clooney em um papel coadjuvante.
A trama é centrada na figura do diretor de comunicação da campanha do candidato vivido por Clooney. O papel é de Ryan Gosling. Paul Giamatti vive o senador que disputa a indicação democrata contra a trupe de Clooney e Gosling.
The ides of march, que neste momento está sendo gravado nos arredores de Detroit e Cincinnati, é a principal aposta da Sony (que perdeu o Oscar este ano depois de ter o favoritismo com A rede social) para o Oscar 2012.
A expectativa pela nova incursão de Clooney na direção é grande. Após deixar excelentes impressões com Boa noite e boa sorte (2005), que concorreu aos Oscars de filme e direção, Clooney decepcionou com a regular comédia O amor não tem regras.
The ides of March tem data marcada para estrear nos cinemas americanos: 14 de outubro.

Ryan Gosling se prepara para rodar uma cena


George Clooney orienta a equipe de filmagens em Cincinnati na última terça-feira, 8 de março


Ainda o Oscar 1
Não é exatamente uma unanimidade, mas fora a crítica e cinéfilos mais exaltados, muita gente gostou da premiação de O discurso do rei. Mas isso já foi discutido aqui em Claquete no texto "O saldo da temporada de premiações". Mas e a opinião do leitor do blog? Três enquetes promovidas na semana seguinte à realização do Oscar tinham como objetivo aferir o humor do leitor em relação a 83ª cerimônia da premiação. Diferentemente da opinião da crítica, inclusive do blog, prevaleceu a percepção de que a cerimônia foi divertida. Houve quem discordasse, mas foi minoria. Já sobre o grande momento da festa, vislumbrou-se um empate técnico entre o discurso de agradecimento de Natalie Portman, premiada como atriz por Cisne negro, e a participação inesperada de Kirk Douglas. Uníssona, ou quase, foi a escolha da maior injustiça da noite. A premiação de O discurso do rei como melhor filme de 2010.



Ainda o Oscar 2
Pode parecer repetitivo, mas também foi aventado em Claquete (na coluna Cenas de cinema publicada no dia seguinte aos prêmios da academia e no texto citado no tópico anterior) que o Oscar saiu da atual temporada por baixo e, inadvertidamente, elevou o status da HFPA (organização que distribui o Globo de ouro) em uma revisão histórica. Essa semana, a jornalista Ana Maria Bahiana, que faz parte da HFPA, e mantém um blog no portal UOL, publicou um artigo repercutindo essas noções do ponto de vista de quem faz parte da associação que rivaliza em importância com o Oscar.
No pontual texto, em que afirma que a academia tem muito a aprender com a Unidos da Tijuca, cujo enredo no carnaval 2011 reverenciou filmes de imenso apelo popular, a jornalista destaca que é do Oscar esquivar-se de reconhecer os grandes filmes da história. Para ler o texto completo, clique aqui.



Grupo heterogêneo
Há dois dias foi anunciado que o novo filme de Guillermo Del Toro, At the mountains of darkness, teria Tom Cruise como protagonista. O projeto, o qual o cineasta está vinculado a mais de oito meses, terá produção de outro titã do entretenimento, James Cameron. A trinca, porém, irá esperar um pouco mais para colaborar. A Universal, estúdio responsável pela produção, adiou o projeto sob o argumento de que uma produção de U$ 150 milhões para um público maior de 18 anos é economicamente inviável. A posição do estúdio é compreensível. Del Toro deve dedicar-se em um primeiro momento a outro projeto pessoal, Pacific Rim, um filme de monstro. Enquanto isso, Tom Cruise e James Cameron devem se engajar na viabilização da fita, mesmo que um corte orçamentário seja necessário. Não está descartada a troca de núcleo criativo. Mas o potencial comercial e qualitativo de uma trio desses não deve, pelo menos em teoria, ser descartado.



As peripécias de Charlie Sheen

E quem não ouviu, não fez piada e não se indignou com as últimas de Charlie Sheen? Considerado um dos atores mais promissores a surgir nos anos 80, Sheen, após sucumbir ao álcool e às drogas, conseguiu uma improvável reviravolta positiva no inicio dos anos 2000. O casamento com Denise Richards trouxe boas energias e logo a série Two and a half men se tornou a de maior sucesso na TV americana, inflando os vencimentos de Sheen ao ponto dele se tornar o maior salário da TV americana atual. Uma bela história. Mas Sheen teima em acrescer capítulos sombrios a ela. Na contramão de gente como Robert Downey Jr, por exemplo. Depois de um truculento divórcio, veio outro. Entremeados por escândalos e primeiras páginas em tablóides sensacionalistas com olhos esbugalhados, pouca roupa e nenhuma vergonha. Também teve prisão em natal, cachês exorbitantes pela companhia de atrizes pornôs e declarações infelizes.
Na última semana, o recorde impressionante de 1 milhão de seguidores no twitter em 24 horas (que vai lhe valer uma segunda menção no guinness book) foi eclipsado pela notícia de que foi demitido de Two and a Half men. O show de Charlie Sheen, ao que tudo indica, ainda não tem data para acabar.

Charlie Sheen e uma das atrizes pornôs que faz parte de sua escolta particular na primeira foto postada pelo ator após ter aderido o twitter



Fotos: divulgação e arquivo pessoal de Charlie Sheen