sábado, 19 de novembro de 2011

Cantinho do DVD

O cinema australiano, que foi destaque na seção passada de Cantinho do DVD com o western A proposta, volta ao pauta com o intenso Reino animal. A produção ganhou destaque internacional ao valer a Jacki Weaver uma indicação ao Oscar de atriz coadjuvante. Reino animal é da linhagem de filmes que não glamouriza o crime, mas busca conferir-lhe certa dimensão dramática. É um filme duro, por vezes inquietante, mas muito bem conduzido pelo diretor estreante David Michôd. A fita nos faz atentar para algo até mesmo óbvio tratando-se do país que revelou talentos como Russel Crowe, Heath Ledger, Mel Gibson e Hugh Jackman: o cinema australiano merece nossa atenção.






Crítica

De vez em quando surge um filme que nos tira o fôlego. Desde sua cena inicial, em que um adolescente reporta em um misto de choque e naturalidade a overdose fatal de sua mãe, Reino animal (Animal kingdom, AUST 2010) se habilita como um representante legítimo dessa ordem de filmes. A cena final, tão alarmante e ainda mais acachapante do que a inicial, sacramentará a certeza. 
Em Reino animal, acompanhamos a trajetória de Josh (James Francheville), que após a súbita morte da mãe vai morar com a avó e os tios, com quem sua mãe havia rompido não por eles integrarem um grupo criminoso, mas por uma áspera discussão em jogo de carteado.
Josh precisará aprender a conviver com aquelas pessoas que trafegam entre os limites da civilidade e bestialidade. Não são circunstâncias fáceis as que Josh se vê envolvido e o diretor David Michôd, em sua estreia no cinema, se incumbe de dramatizá-las de uma maneira naturalista e, frequentemente, violenta.
Michôd utiliza cacoetes do cinema independente para contar uma história de um garoto imerso em um clã criminoso que, aparentemente, tenta manter alguma sobriedade e independência. Reino animal, então, submete seu protagonista a uma porção de escolhas morais que, não só ele não reúne condições de amparar, como não parece capaz de desvencilhar-se das consequências atreladas a elas.
Nesse sentido, o policial vivido por Guy Pierce, que vive a assediar Josh para delatar sua família criminosa, surge como um genuíno desestabilizador na trama. Trama esta que não se resolve, mas indica o tenebroso futuro de Josh aventado naquela cena inicial. O último ato do filme, de um frenesi enervante, demonstra a construção sólida que Reino animal é enquanto cinema. Com uma narrativa robusta, ainda que minimalista, a fita encontra no formato digital urgência e sobriedade. São características que só retificam a força do cinema australiano que conseguiu colocar a poderosa Jacki Weaver, que faz a assustadoramente polida matriarca da família criminosa, na disputa pela estatueta do Oscar de atriz coadjuvante este ano.

3 comentários:

  1. De fato, o último ato nos pega, o filme é um filme instigante, que nos pega por um argumento forte e por belas interpretações, não apenas de Jacki Weaver, mas de todo elenco.

    bjs

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  2. Pra mim, ainda se sustenta com folgas entre os melhores filmes lançados neste ano. "Reino Animal" me fez refém durante toda a sessão, é realmente instigante, apreensivo, um clima pesado e muito bem conduzido pelo estreante David Michôd, o cara arrebentou! Narrativamente, me remete ao também ótimo e recente "O Profeta", mas eu acho que fico com os australianos, que sim, concordo: temos que prestar mais atenção no que sai da Oceania.

    Nao vi A Proposta, vou correr atrás disso...

    abs!

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  3. Amanda:Me impressionou, principalmente, a rigidez da direção. Um trabalho e tanto do Michôd.
    Bjs

    Elton:Valeu meu caro. Tb fui impactado por essa fita australiana. Mas não o colocaria entre os melhores do ano. Pelo menos não entre os dez. Entre os vinte, talvez.
    Abs

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