sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Crítica - Virada no jogo



Aula de teoria política

A HBO se notabilizou pela produção requintada de filmes que enobrecem o espaço da TV por assinatura. Dentro desse filão, aqueles sobre o jogo político, do qual faz parte esse excelente Virada no jogo (Game change, EUA 2012), ocupam lugar de destaque. O filme se baseia em um livro reportagem de Mark Halperin e John Heilemann sobre os bastidores da campanha republicana à presidência dos EUA em 2008. Sobre como a candidatura McCain ergueu o fenômeno Sarah Palin para medir forças com o fenômeno midiático Barack Obama e de como essa solução improvisada descarrilou uma campanha difícil desde seus primórdios.
Jay Roach, que assumiu a direção de outro notável filme da HBO sobre arremedos políticos quando Sidney Pollack se adoentou (Recontagem), reveste Virada no jogo de tensão, ainda que seu público tenha vívida a lembrança do que aconteceu. Com a sombra de Obama realçada vez ou outra, o filme se incumbe mais do que qualquer outra coisa de humanizar a figura de Sarah Palin – personagem tão cativante quanto demonizada. Nesse sentido, a interpretação de Julianne Moore salta aos olhos. A atriz faz mais do que reproduzir maneirismos da ex-governadora do Alasca, ela investe em uma composição rica que permite o vislumbre de uma mulher de convicções firmes, mas despreparada para o traquejo político de uma corrida eleitoral das proporções da disputa presidencial americana. Sarah Palin não é retratada como uma vítima das circunstâncias, tampouco como uma caricatura. Por se infiltrar tão avidamente nas noções que rodeiam uma personalidade política tão controversa, Virada no jogo se ergue como um estudo de personagem altivo e eficaz. Impressionável e com baixa formação cultural, a Sarah Palin que se testemunha em Virada no jogo é uma mulher egocêntrica que aconteceu pelos motivos errados.

Moore como Palin e Harris como McCain: atores que vão além da simples imitação


O brilhantismo de Virada no jogo, no entanto, não se circunscreve ao retrato que faz de sua protagonista. As articulações políticas e o poder reativo de uma campanha que precisava desconstruir um mito moderno em formação são outros atrativos desse filme que se posiciona como uma polivalente aula de teoria política.
Das maquinações de bastidores, as intensas preparações para debates, à escolha dos entrevistadores, tudo que se vê em Virada no jogo é justificável dentro de sua proposta narrativa. Eis um filme sem gorduras e paliativos, de ação ininterrupta movida à inteligência de seu texto e de sua audiência.
Um acréscimo precisa ser feito em nome do elenco de apoio. À parte o colosso de atuação provido por Julianne Moore, Ed Harris, Woody Harrelson, Sarah Paulson, Peter MacNicol e Jamey Sheridan brilham nas representações que fazem dos personagens envolvidos na trama.
Harris demonstra a habitual competência na pele de McCain, retratado aqui como um homem que quer sim servir ao país, mas que tem a exata noção de que precisa ganhar a disputa pela presidência para fazê-lo melhor. Harrelson, por seu turno, dá um show na pele de Steve Schmidt, o principal conselheiro político da campanha de McCain e um dos “criadores” de Sarah Palin.
Virada no jogo é cinema maiúsculo. O fato de ter sido lançado diretamente na TV não o torna menor ou menos digno de louros. Pelo contrário, apenas ratifica a TV, e a HBO em particular, como polo de criatividade e vigor artísticos.

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