domingo, 8 de setembro de 2013

Insight - Overdose de festivais de cinema?


Brad Pitt em Toronto, ator e produtor de 12 years a slave, um dos principais aspirantes ao próximo Oscar, Pitt foi um dos que optou por levar o filme apenas ao festival canadense, apesar do assédio de outros eventos

É pacífico que os festivais de cinema são importantes para estimular os negócios, conferir visibilidade ao cinema independente, direcionar e pavimentar o cinema autoral, entre outras epifanias que circundam o circuito de festivais e estão na ponta da língua de seus apreciadores. No entanto, como sugere o engarrafamento de festivais de cinema nesse segundo semestre, essa tão bem sucedida e propagada dinâmica pode estar em vias de saturação. O festival de Veneza, o mais antigo do mundo e um dos mais tradicionais, já há algum tempo briga para manter sua relevância. A grande mídia, nesta última edição, vaticinou que em matéria de influência já perde para Toronto. Talvez passe por isso a superlotação cada vez maior de produções anglo-saxônicas em Veneza (em 2013 são oito de 20 filmes em competição). Toronto rapidamente se firmou como principal plataforma do Oscar, mas nos últimos anos tem atraído, também, produções europeias e asiáticas para lançamento na América do Norte. Em virtude dos festivais ocorrerem em paralelo, muitas produções acabam sendo selecionadas para ambos e outras optando por Toronto, que mesmo não sendo competitivo, favorece a carreira comercial de um filme.
Toronto e Veneza polarizam as atenções por serem os festivais mais prestigiados do semestre, mas até dezembro um sem número de festivais de média ou grande projeção também acontecem e desinflacionam o impacto primário que eventos desse perfil deveriam ocasionar. Nova Iorque (EUA), San Sebastian (ESP), Pequim (Chi), Tóquio (JAP), Roma (ITA), Londres (ING), Rio de Janeiro (Brasil) e AFI Institute (EUA) são alguns dos muitos festivais agendados para essa concorrida época do ano. O calendário do Oscar que começa com o outono do hemisfério norte está todo voltado para Toronto (majoritariamente) e Veneza (pontualmente), o que torna os outros festivais esvaziados da produção americana. Justamente por isso, eventos como Londres e San Sebastian correm para fazer premières europeias de alguns dos mais aguardados lançamentos da temporada e homenagens às carreiras de proeminentes membros da realeza hollywoodiana. Às vezes a estratégia vinga. Às vezes não. Londres, esse ano exibirá os dois aguardados filmes protagonizados por Tom Hanks (Captain Phillips e Saving Mr. Banks), mas a primazia ainda será de Toronto.

A atriz Dakota Fanning, a diretora Kelly Reichardt e Jesse Eisenberg de Night moves, filme que participa de quatro festivais até seu lançamento comercial em outubro, em Veneza onde a produção foi exibida fora de competição

Dakota Fanning, ainda com sorriso no rosto, poucos dias depois divulgando o mesmo filme em Toronto

No Brasil, criou-se uma solução relativamente controversa para a rivalidade entre a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e o Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro que rivalizam por espaço no calendário. Como o Rio, que tem mostra competitiva de filmes nacionais, é sempre porta de entrada no Brasil de filmes bem sucedidos em festivais ao redor do mundo, a Mostra decidiu, há três anos, aprofundar sua garimpagem e só apresentar filmes inéditos em festivais no Brasil (o que quer dizer que não tenham sido exibidos no festival do Rio). A decisão, aparentemente positiva e certamente corajosa, se revela problemática. A qualidade da Mostra certamente decaiu, assim como a média de público nos últimos anos. Ainda que a organização não oficialize isso. Oficialmente, a Mostra está na berlinda em virtude da morte em 2011 de seu idealizador e curador, Leon Cakoff.
Curadoria de festivais exige bons contatos, prestígio e elementos de barganha. A multidão de festivais ataca essas três frentes. Não é algo que vá repercutir imediatamente, ainda que já haja sinais perceptíveis, mas enquanto alguns festivais não sobreviverão, outros precisarão repensar seriamente sua posição no calendário e sua capacidade de penetração. Nova Iorque, por exemplo, sedia anualmente seis festivais de cinema. O que leva o nome da cidade é apenas o mais novo deles. Vai para sua quinta edição. Roma é outro festival jovem. O evento acontecerá em novembro pela sétima vez e tem como grande objetivo sugar prestígio do rival Veneza. Al Pacino, Meryl Streep, Richard Gere e Sylvester Stallone foram algumas das personalidades homenageadas nos últimos anos.
Apesar de parecer o contrário, essa overdose de festivais não é boa para o cinema. Até porque poucos se concentram em lançar novos talentos. Esses festivais se concentram no início do ano (Roterdã, Sundance, Recife, Tribeca, entre outros), mas brigam pelos que já estão disponíveis. Isso resulta em canibalização dos festivais de cinema pelo marketing promocional dos estúdios e no empobrecimento dos eventos enquanto balão de oxigênio da sétima arte.

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