segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Especial O quinto poder - As versões da verdade



Por razões diversas, mas umbilicalmente ligadas à estratégia de operação do Wikileaks, o filme sobre a criação do site e seu idealizador atraíram interesses difusos e antagônicos desde seu anúncio. Julian Assange, que ainda não gozava de seu confinamento voluntário na embaixada equatoriana em Londres, não aprovou a ideia de ter um filme sobre sua figura realizado pelo cinema americano. Assange, admita ele ou não, é um forte oposicionista dos EUA no plano internacional. E a reciprocidade é verdadeira. De qualquer modo, um filme feito no esquema comercial hollywoodiano não necessariamente incorpora o discurso institucional, ainda que Hollywood seja o mais formidável exemplo de soft power disponível na atualidade.
A produção assinada por Bill Condon reúne um pequeno conglomerado de estúdios, os principais são DreamWorks, Relience Entertainment e  Participant Media, e se baseia em dois livros. São eles “Inside Wikileaks: my time with Julian Assange at the world´s most dangerous website”, de Daniel Domscheit-Berg e "Wikeleaks: inside Julian Assange´s war on secrecy", de David Leigh e Luke Harding. A adaptação para o cinema é assinada por John Singer.
Os dois livros fizeram razoável sucesso no meio editorial e não foram objeto de bravata de Assange na ocasião de seus lançamentos. Por certo, combinados ou independentes, proveem um painel muito mais complexo e irrigado do personagem e sua cria, o Wikileaks. Foi justamente essa a percepção dominante quando da estreia do filme no último festival de Toronto em setembro. A grande maioria da crítica torceu o nariz para o filme, especialmente a americana que gostaria que o filme tomasse partido. “O partido que fosse”, chegou a pontuar o jornal The Washington Post. Assange, à medida que se aproxima a estreia do filme (marcada para esta semana nos EUA), iniciou uma campanha pública de desmoralização nos mesmos moldes e rotina da que perpetra contra governos e grande empresas. Primeiro vazou o roteiro do filme com um memorando apontando as muitas falhas no texto. Depois divulgou uma carta enviada por ele ao protagonista do filme, Benedict Cumberbatch em resposta à abordagem deste para encontra-lo. A carta fora enviada em janeiro e tornada pública agora em outubro. Nela, Assange elogia Cumberbatch, mas ressalta (implicitamente) sua ingenuidade ao participar do filme.

Assange dirige-se para um pronunciamento na embaixada equatoriana em Londres: um homem que gosta de revelar segredos, desde que não seja os seus

No geral, as chances do filme chegar ao Oscar parecem reduzidas neste momento, para satisfação de Assange que adotou uma postura muito mais agressiva do que Mark Zuckerberg, outra figura polêmica a representar o “império digital” a ganhar um filme sobre si e sua cria.
Segundo Bill Condon, houve por parte da realização uma preocupação muito grande em evitar preconceitos e fórmulas convencionais de filmes de espionagem na confecção de O quinto poder. Por isso, a opção por se basear em livros jornalísticos. Frustrar a ampla maioria da crítica americana – Assange não é exatamente uma figura popular por lá – e também Julian Assange é um sinal de que a proposta pode não ter sido tão fracassada assim.

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