quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Espaço Claquete - Jogos vorazes

Jogos vorazes (Hunger games, EUA 2012) é um produto de seu tempo. Uma aposta arriscada de um estúdio (a Lionsgate) que já vinha perseguindo uma franquia jovem adaptada de um best-seller infanto-juvenil. Assim como ocorre na saga Crepúsculo, esse primeiro filme carece de arestas melhor aparadas e uma melhor adequação dos conflitos centrais que movem a trama.
No entanto, a produção distingue-se de Crepúsculo porque já neste exemplar se verifica a potencialidade da narrativa. Há, também, no desenho do universo criado por Suzanne Collins e transposto para o cinema por Gary Ross, uma clara metáfora política – ainda que subaproveitada. Este valor temático coloca Jogos vorazes em posição de destaque dentro do universo das franquias infanto-juvenis – e aí inclusa a saga Harry Potter. Esse destaque, porém, deriva mais das possibilidades ensejadas por esse primeiro filme do que pelas graças alcançadas; até porque este primeiro capítulo é invariavelmente frustrante.
Em um futuro distópico, a capital domina os 12 distritos de Panem com mão de ferro. Anualmente são organizados os jogos vorazes que consistem basicamente em membros de cada distrito duelando até a morte. Os tributos, como são chamados os escolhidos, são treinados para esse misto de jogos de guerra e reality show. O vencedor é agraciado com uma vida de luxo e ostentação.
O cinema está repleto de mimetizações da política de pão e circo que tanto caracterizou a evolução da humanidade, mas essa verve narrativa jamais surgiu tão cristalina e bem formatada em uma franquia de apelo jovem.
Jennifer Lawrence, talentosa que é, segura as pontas como protagonista e heroína de ação. Duas coisas distintas e que aqui necessariamente precisam se complementar. Aí está outra grande divergência entre este filme e Crepúsculo. Bella (Kristen Stewart) é a protagonista de Crepúsculo, mas em momento algum é uma heroína de um filme de ação. Nem sequer tem as atenções reiteradamente depositadas sobre ela. Katniss Everdeen é a heroína de um filme de ação (Crepúsculo só foi flertando com a ação à medida que se quis fisgar o público masculino) e foco principal da narrativa, não o amor que a envolve a dois homens. Muito embora haja uma atrapalhada tentativa de reproduzir os efeitos do triângulo amoroso aqui. Ross, no entanto, resiste à ideia de deixar o romance deslocar o centro da trama.
Jogos vorazes não é nem de longe o filme que promete ser ou o filme que poderia ser. Mas sugere que com a vontade no lugar certo e o endosso financeiro que as bilheterias garantem, tudo será muito mais voraz nas sequências. 

Um comentário:

  1. Nossa, achei esse filme tão tosco que hoje quando vejo o pessoal falando bem da sequência minha descrença é automática :(
    A história é interessante, mas a forma como foi filmada, cheia de flashbacks inúteis, com uma edição super pretensiosa não deu pra engolir... Enfim, aguardo pela sua resenha do novo filme.
    Bjs

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